Por Reinaldo Azevedo
O consumo de crack é hoje um flagelo nacional. Há notícias de que a “pedra”
chegou a comunidades indígenas dos rincões do país. A “cracolândia” como
símbolo de um problema paulistano é uma coisa do passado. A droga se alastrou.
O problema foi ignorado pelo governo Lula, que deu de ombros para o problema do
tráfico de qualquer substância. Ao contrário até. Países como a Bolívia, que
“exporta” ao Brasil 80% da cocaína que aqui se consome, e Paraguai, grande
fornecedor de maconha, foram tratados a pão-de-ló. O BNDES financia uma obra em
terras bolivianas que é chamada de “estrada da coca”. Lula deixou-se fotografar
ao lado de Evo Morales, o índio de araque, exibindo um vistoso colar de folhas
de coca.
Maconha, cocaína e, a rigor, qualquer droga - mesmo as lícitas, como os
remédios - podem devastar um indivíduo depois de muito tempo de consumo. O
crack tem-se mostrado único na velocidade com que destrói a vida do usuário. Em
poucos dias, torna-se um zumbi. Como perde todos os parâmetros, a vida em
sociedade se torna impossível, e o caminho da marginalidade é certo. Se outras
substâncias permitem o convívio social - podemos estar falando com consumidores
de drogas sem que o saibamos -, o crack expulsa o viciado de casa, do trabalho,
do círculo de amigos.
E Dilma, clonando o adversário José Serra, prometeu se empenhar na guerra ao
crack, reprimindo o tráfico e tratando os doentes. Foi o que ela falou durante
a campanha. Então vamos ver o que ela fez. Seu governo nomeou para a Secretaria
Nacional de Políticas Sobre Drogas (Senad) ninguém menos do que Pedro
Abramovay. O órgão migrou da Secretaria de Assuntos Estratégicos para o
Ministério da Justiça. É ele que vai coordenar o tal programa conta o crack -
se é que existirá um algum dia.
Em entrevista ao Globo, publicada na terça, o rapaz se disse contrário à
prisão de “pequenos traficantes”, aqueles, segundo se entende, que traficam
para poder consumir - como se a destinação que um indivíduo dá a seu nariz ou a
seu pulmão mudasse a qualidade daquilo que ele faz: TRÁFICO!!! O ministro da
Justiça, José Eduardo Cardozo, que nomeou Abramovay, não pode nem mesmo alegar
ignorância. Em 2009, ele defendeu publicamente essa mesma posição.
A política antidrgoas em curso já descriminou, na prática, o consumo. Quem
for flagrado com alguma substância ilegal para uso pessoal não vai mais em cana. A decisão até pode
aliviar os presídios, claro!, mas é estúpida no que concerne ao combate às
drogas. Fica parecendo que o consumidor não é um dos elos da cadeia criminosa.
E é! Aliás, sem ter quem cheire e fume, não há como vender o que se cheira e o
que se fuma, não é mesmo? Mas vá lá…
Bom esquerdista, Abramovay aprendeu as lições do “etapismo”. Como se diz em Dois Córregos, “você
dá o braço, eles logo querem a perna”. O homem que deve coordenar o programa do
governo Dilma contra o crack quer soltar os “pequenos traficantes”. Segundo
diz, trata-se de uma visão estratégica. Na cadeia, esses “pequenos” acabariam
se ligando forçosamente aos grandes. Entendi: Abramovay acredita que o jeito de
se coibir o crime grande é ser tolerante com crimes pequenos.
As opiniões de Abramovay expõem o real compromisso do governo Dilma com o
combate ao crack. Na sua primeira entrevista, o rapaz encarregado de tocar o
programa defende a liberdade para traficantes - só os pequenos, naturalmente!
Ora, dá-se, assim, um sinal.
Alguém acredita que desse mato vá sair coelho? Que desse pântano possa
brotar alguma flor que preste? Cardozo se apressou em afirmar que a opinião de
Abramovay não é a do governo. E daí? Se não é, por que ele está ocupando um
cargo estratégico? Sua opinião a respeito, reitero, não é nova. Se está no
cargo, é porque o governo condescende com ela. O sujeito não foi nomeado por
acaso.
Estamos diante de uma tática petista bastante manjada. Enquanto,
oficialmente, executa-se uma política, põe-se uma outra para operar nos
bastidores. Ora, se o governo não quer pôr na rua os “pequenos traficantes”,
então tem é de pôr Abramovay na rua.
Ontem, ele se transformou num herói
de sites que defendem a descriminação da maconha. É justo! Ainda não subiu num
palco e cantou, como fez certa feita o então ministro Carlos Minc. Esse rapaz
ainda em muito o que aprender…