Imagem retirada no Facebook do jornalista |
Sylvio Guedes, editor-chefe do Jornal de Brasília, critica o
“cinismo”… dos jornalistas, artistas e intelectuais ao defenderem o fim do
poder paralelo dos chefes do tráfico de drogas.
Guedes desafia a todos que “tanto se drogaram nas últimas
décadas que venham a público assumir: eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro”.
Leia o artigo na íntegra:
É irônico que a classe artística e a categoria dos jornalistas estejam agora na, por assim dizer, vanguarda da atual campanha contra a violência enfrentada pelo Rio de Janeiro. Essa postura é produto do absoluto cinismo de muitas das pessoas e instituições que vemos participando de atos, fazendo declarações e defendendo o fim do poder paralelo dos chefões do tráfico de drogas.
Quando a cocaína começou a se infiltrar de fato no Rio de
Janeiro, lá pelo fim da década de 70, entrou pela porta da frente.
Pela classe média, pelas festinhas de embalo da Zona Sul,
pelas danceterias, pelos barzinhos de Ipanema e Leblon.
Invadiu e se instalou nas redações de jornais e nas
emissoras de TV, sob o silêncio comprometedor de suas chefias e diretorias.
Quanto mais glamuroso o ambiente, quanto mais supostamente
intelectualizado o grupo, mais você podia encontrar gente cheirando carreiras e
carreiras do pó branco.
Em uma espúria relação de cumplicidade, imprensa e classe
artística (que tanto se orgulham de serem, ambas, formadoras de opinião) de
fato contribuíram enormemente para que o consumo das drogas, em especial da
cocaína, se disseminasse no seio da sociedade carioca - e brasileira, por
extensão.
Achavam o máximo; era, como se costumava dizer, um barato.
Festa sem cocaína era festa careta.
As pessoas curtiam a comodidade proporcionada pelos
fornecedores: entregavam a droga em casa, sem a necessidade de inconvenientes
viagens ao decaído mundo dos morros, vizinhos aos edifícios ricos do asfalto.
Nem é preciso detalhar como essa simples relação econômica
de mercado terminou. Onde há demanda, deve haver a necessária oferta. E assim,
com tanta gente endinheirada disposta a cheirar ou injetar sua dose diária de
cocaína, os pés-de-chinelo das favelas viraram barões das drogas.
Há farta literatura mostrando como as conexões dos meliantes
rastacuera, que só fumavam um baseado aqui e acolá, se tornaram senhores de um
império, tomaram de assalto a mais linda cidade do país e agora cortam cabeças
de quem ousa lhes cruzar o caminho e as exibem em bandejas, certos da
impunidade.
Qualquer mentecapto sabe que não pode persistir um sistema
jurídico em que é proibida e reprimida a produção e venda da droga, porém seu
consumo é, digamos assim, tolerado.
São doentes os que consomem. Não sabem o que fazem. Não têm
controle sobre seus atos. Destroem famílias, arrasam lares, destroçam futuros.
Que a mídia, os artistas e os intelectuais que tanto se
drogaram nas três últimas décadas venham a público assumir:
"Eu ajudei a destruir o Rio de Janeiro."
Façam um adesivo e preguem no vidro de seus Audis, BMWs e
Mercedes.
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