por Izabela Vasconcelos
(Jornalista do Site Comunique-e)
Os confrontos entre
traficantes e policiais no Rio de Janeiro, durante a última semana, ocupou boa
parte das páginas dos jornais, revistas e espaço nas emissoras de televisão e
rádio. No entanto, para o antropólogo Edilson Almeida da Silva, autor do livro Notícias
da violência urbana: um estudo antropológico (Editora UFF), apesar do conflito
não poder ser negligenciado, a cobertura jornalística cometeu excessos e tratou
o assunto de uma forma simplista.
“Apesar de ser um
grande conflito, há certa espetacularização do problema. É tratado de uma
maneira maniqueísta, como mocinhos e bandidos. Apenas dois lados se contrapondo
é uma forma simplista”, define o pesquisador do Instituto de Estudos Comparados
em Administração Institucional de Conflitos (INCT-InEAC), da Universidade
Federal Fluminense.
Para
ele, a cobertura da violência no Rio de Janeiro cresceu ao longo dos anos
porque passou a atingir classes que antes não se sentiam fragilizadas. “A
violência se difundiu para segmentos da sociedade que antes se consideravam
mais afastados da violência, e agora se sentem sensíveis. Isso mobiliza a
cobertura”, avalia.
Divulgar
os suspeitos
Segundo ele, até pouco
tempo a mídia adotou uma postura satisfatória ao evitar noticiar nomes de
bandidos e facções, mas com o recente conflito, voltou a identificar os
criminosos. “Para poder apoiar a ação das UPPs, eles acabam fazendo o que eles
tinham evitado, usar os nomes dos bandidos, o que acaba dando um espaço que os
criminosos não merecem”.
Silva também afirma que
a mídia filtrou entrevistas e trouxe muitos relatos, mas alguns deles não
refletiam a fiel realidade. “Os jornalistas fazem filtragens das pessoas da
comunidade, dos moradores, mostram muitos felizes, mas nem sempre reflete o que
todos estão sentindo”.
Destaque
no Brasil e nos EUA
Durante o conflito, a
Globo chegou a transmitir mais de cinco horas ininterruptas do confronto. A
Record fez o mesmo por mais de duas horas. A semana do conflito também
ilustrou, por dias, as manchetes de jornais, como Folha de S. Paulo, O Estado
de S. Paulo e O Globo. A equipe do jornal Extra fez transmissões por twitcam e
criou uma página no Twitter exclusiva para a cobertura.
O jornal The New York Times chegou a afirmar
que a mídia nacional conseguiu “cativar” os brasileiros para a cobertura do
confronto como em nenhum outro evento desde a Copa do Mundo da África do Sul.
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