Dentro de seis meses a população do Estado do Pará irão às
urnas para opinar sobre a criação de mais dois Estados na Região Norte do país:
Tapajós e Carajás. O objetivo é dividir o Estado do Pará em três Estados.
Na manhã desta sexta-feira 1°, o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) marcou para o dia 11 de dezembro o plebiscito para a divisão e criação
dos estados. A decisão do plebiscito foi votada em 31 de maio, deste ano, pelo senado.
Com a divisão, Tapajós ficará com 27 municípios, localizados
na parte oeste do Pará, onde vivem aproximadamente 1,7 milhão de pessoas.
Tapajós corresponderá a cerca de 50% do atual território paraense. Carajás, por
sua vez, reunirá 39 municípios ao sul e sudeste, com cerca de 1,5 milhão de
pessoas. E o novo Pará ficaria com 78 municípios e 2,9 milhões de habitantes,
mas o menor território.
O projeto de divisão do Estado é do senador Mozarildo
Cavalcanti (PTB-RR). Segundo o parlamentar, “o Pará sozinho tem tamanho
semelhante ao das regiões Sul e Sudeste juntas, com seus sete Estados. Por
isso, a distância entre alguns municípios e capital, Belém, inviabiliza o
desenvolvimento dessas regiões mais longínquas”, destaca o senador.
Interesses
“O Pará tem 144 cidades. Municípios como Altamira, que é
maior do que muitos países da Europa, estão no oeste do Pará. A área do Estado
hoje é de 1,4 milhão de quilômetros quadrados. Administrá-lo é como administrar
vários países da Europa ao mesmo tempo”, comparou Mozarildo Cavalcante, durante
um pronunciamento feito no Plenário do Senado em maio deste ano.
Apesar da defesa do senador, o professor de estudos sócio
políticos econômicos brasileiros da ESPM (Escola Superior de Propaganda e
Marketing), Leonardo Trevisan, não acredita que a divisão vá melhorar as
condições de vida para a população. “A sociedade local não ganha porque não
está posta no problema”, afirma. “Além disso, você não consegue sequer
identificar com clareza quais são os interesses econômicos dessa ação”, diz
Trevisan.
Outro problema levantado pelo especialista é a falta de
identidade cultural e territorial.
- Quando você pensa
em divisão, você pensa em identidade. O que não há na região. Os Estados novos
são criados a partir de uma identidade territorial e cultural, o que no Pará
nós podemos chamar de ‘artificial’. Por exemplo, em Tapajós ainda não há nada,
Belo Monte será toda de ‘estrangeiro’. Já Carajás é formada por gaúchos que
foram para lá em busca de trabalho, explica Leonardo Trevisan.
Pobreza
- O Estado do Pará é
um dos mais pobres do país, com o terceiro menor PIB (Produto Interno Bruto do
País). Com a divisão territorial, a região pode ser ainda mais prejudicada. O
Pará inteiro tem cerca de sete milhões de habitantes, e um PIB aproximado de R$
50 milhões, o que é pouco, ressalta Trevisan.
Além disso, quase não se investe na população. “O principal
motor da região é a extração mineral e ambiental, e a universidade do Estado só
teve um curso de exploração de engenharia de minas em 2004” , exemplifica. “Quando
você olha para isso tem uma ideia melhor da situação e não dá para pensar que
há desenvolvimento no Estado”, completa.
O professor explica ainda que “a mudança trará reflexos no
Judiciário, na ordenação política, no Congresso, entre outros, e isso seria a
parte mais barata do problema”. Os dois novos Estados precisarão criar também
infraestrutura para a população. Serão mais duas secretarias da Saúde, da
Educação, da Segurança Pública etc., para atender as populações de Carajás e
Tapajós. O que, para o Trevisan, seria um desperdício de recursos.
Ambição
Então, por que dividir o Estado em três? “Há uma extrema
ambição sobre royalties da mineração, recursos hídricos e riquezas outras – uma
maior atenção à questão ambiental. Vão mudar de preço, madeira, por exemplo”,
responde Trevisan.
Para ele, o grande interesse nessa divisão “é definir quem
vai ficar com os royalties dessa riqueza, em uma divisão que esquecem que é a
população que deve ser beneficiada”, afirma.
Trevisan não acredita que a divisão vá acontecer. “O
plebiscito é uma consulta, não uma obrigação”, diz. "O que se pretende é
definir territórios sobre interesses econômicos”, reforça.
Além
disso, do ponto de vista político, deverão ser criadas novas vagas para
deputados na Câmara. Atualmente, a legislação diz que a Casa deve ter até 513
deputados. O Pará ocupa 17 cadeiras e pode chegar a 24. Mas, para isso, teria
que ocupar vagas de outros Estados. “Isso significaria um altruísmo por parte
dos deputados, acho que não vai acontecer, pois nenhum deputado vai dividir seu
espaço para acolher outros”, opina Leonardo Trevisan.
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